Entrevista: Charles Hedger (Imperial Vengeance, Mayhem, ex-Cradle Of Filth)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012


Faz um bom tempo que eu costumo falar que a cena Metal, de um modo geral, tornou-se estagnada e uma antítese de si própria. Poucas são as bandas que arriscam-se por caminhos nunca explorados antes, relegando os subgêneros a mesmice com bandas totalmente previsíveis. Tornou-se um hábito formar bandas que já seguem fórmulas prontas, ou você toca exclusivamente Death Metal, ou apenas o Tr00 Black Metal de origem norueguesa, e assim por diante. É uma heresia trazer influências novas, o público em geral cruscifica todas as bandas que fazem isso. Mas o que todos esquecem, é que muitos anos atrás, todas essas bandas cultuadas hoje em dia tiveram que fazer isso para criar seu próprio som e tornarem-se essas lendas que conhecemos.
O Imperial Vengeance é uma dessas bandas que conseguiu criar algo totalmente único e diferenciado dos padrões e dogmas do Metal. A banda é liderada por Mr. Charles Edward-Alexander (vocal/guitarra) e Mr. David Bryan (baixo). A dupla ainda conta com músicos de apoio para apresentações ao vivo. Seu som é totalmente único, com influências que vão desde o mais básico Black e Death Metal, até sonoridades mais experimentais como Prog Metal e Música Erudita. A própria temática lírica e a estética da banda também são totalmente únicas, inspirando-se no militarismo britânico e com letras mais voltadas para teatro, literatura e mitologia.
Infelizmente, a banda ainda é pouco conhecida no Brasil, mas seu líder, o Mr. Charles citado acima, já é um velho conhecido de muita gente. Talvez muitos de vocês o conheçam pelo nome de Charles Hedger, que além de liderar o Imperial Vengeance, hoje em dia também está integrando a lendária banda norueguesa Mayhem. Como se não bastasse, Charles também já passou pelo Cradle Of Filth, dentre os anos de 2005 a 2009. Ou seja, não é pra qualquer ter duas grandes bandas como essas em seu currículo e ainda formar sua própria banda com um som totalmente único.
Charles Hedger é nosso entrevistado da semana, como vocês podem conferir logo a seguir.

Imperial Vengeance

Na entrevista, abordamos assuntos como o trabalho do Imperial Vengeance, sua recente experiência com o Mayhem, sua passagem pelo Cradle Of Filth e vários outros assuntos. A entrevista gerou uma conversa muito interessante, Charles Hedger é um músico com uma mente muito aberta e com muitas influências diferentes. Recentemente, ele começou a trabalhar na criação de trilhas para filmes, games, TV, etc.
O Imperial Vengeance já lançou dois álbuns e dois EP's. Em seu primeiro álbum, "At The Going Down Of The Sun", a banda tocava um som mais cru, mas que ainda assim já apontava para qual era o objetivo deles. Já no segundo trabalho, "Black Heart Of Empire", houve uma evolução enorme em termos de composição, onde temos uma banda com uma proposta realmente inovadora.
Quanto ao Mayhem, cabe um pequeno comentário aqui: antes da realização da entrevista, o próprio Charles me pediu para não comentar muito sobre o assunto. O motivo? Sua entrada na banda ainda não foi oficializada. Mas a essa altura, muitas pessoas já tomaram conhecimento da notícia, já que ele tocou em vários shows com a banda durante o mais recente verão europeu. Além disso, a banda encontra-se gravando material para um novo álbum e postou uma foto em que Charles está junto.

All That Metal: Olá, Charles! Antes de mais nada, eu gostaria de perguntar algo sobre o Imperial Vengeance. A banda é realmente única, tanto musicalmente quanto na questão estética e as letras. Como surgiu essa idéia de formar a banda?
Charles Hedger:
A banda começou apenas fazendo música, sem uma idéia realmente por trás disso. Gradativamente começou a tomar a forma do que tornou-se agora através de um processo criativo natural. É apenas para nosso próprio prazer, na verdade, se outras pessoas gostarem isso é ótimo também. Ainda mais que o que estamos fazendo nunca foi feito dessa maneira que estamos fazendo, então isso torna interessante para nós.

ATM: Em um mundo em que as pessoas podem escutar centenas de bandas na web, eu realmente acho que as bandas deveriam tentar coisas diferentes para destacarem-se na indústria musical. Você acredita que as pessoas se interessaram pela banda por causa desses aspectos diferentes de sua música?
Charles:
Espero que sim. Para mim, a cena metal se tornou completamente obsoleta. Parece que é somente sobre descobrir a próxima melhor banda de Thrash, ou a próxima melhor banda de Death Metal; é tudo tão exaustivo, merda reciclada. Todos querem soar como as bandas que já haviam antes, e todos estão com medo de quebrarem as regras, o que é totalmente o oposto de como as bandas de Metal deveriam ser.


ATM: Até onde eu sei, você é muito influenciado por Música Clássica, especialmente do período Romântico [NE: período que vai de 1815 até o final do século XIX, caracterizado por compositores como Liszt, Wagner, Schubert, Chopin, Beethoven, dentre muitos outros]. Que compositores o influenciaram mais e como isso afeta na hora de compor?
Charles:
Eu não tenho certeza de como isso afeta minha composição dentro da banda, mas possivelmente sim de alguma maneira. Eu sou mais inspirado por Wagner principalmente, e então Debussy, Schoenberg, Webern, Rachmaninov, Penderecki e vários outros na verdade. Eu apenas gosto de música que pinta um quadro em minha mente, bonito ou feio.

ATM: Eu aposto que as pessoas já te perguntaram isso dezenas de vezes, mas eu vou fazer isso de qualquer forma. Você gravou todas as guitarras nos dois álbuns do Imperial Vengeance, mas durante as performances ao vivo você apenas canta. Alguma razão específica pra isso?
Charles:
Eu faço as duas coisas, guitarra e vocal, ao vivo. Nós fizemos alguns shows comigo apenas no vocal, mas agora nós dividimos os vocais entre eu e Dan [David Bryan, baixista da banda] e funcionou muito bem.

ATM: Como surgiu a idéia de vocês gravarem um cover do Madness? Acho que ficou um ótimo trabalho!
Charles:
Obrigado, nós nos divertimos muito fazendo isso, mas foi um experimento na verdade. Eu pensei que a música poderia funcionar como uma canção de metal extremo com apenas pequenas alterações, e eu acho que saiu bem.


ATM: Eu percebi uma grande evolução na banda do primeiro álbum para o mais recente full lenght. Vocês realmente tentaram coisas diferentes, certo? E qual foram as principais influências nesse álbum? Particularmente, eu devo dizer que a canção "The Ghost Light" é uma das melhores coisas que escutei recentemente.
Charles:
Obrigado, essa é possivelmente minha faixa favorita do álbum na verdade. Realmente, a regra ao escrever esse álbum foi não restringir a música de forma alguma. Eu tentei ignorar o que você é e o que você não é permitido fazer em uma música de Metal. Na verdade, eu diria que esse álbum é mais próximo de Progressive Metal do que Black Metal, já que ele possui alguns sons bem estranhos em alguns momentos.

ATM: Você anda compondo trilhas para alguns filmes independentes. Você poderia nos contar um pouco mais sobre isso?
Charles:
Eu tenho feito alguns pequenos filmes, trailers e um pouco de TV, eu realmente gosto de fazer trilhas sonoras para filmes e games. Me dá uma chance de desafiar a mim mesmo como compositor.

ATM: Qual a sua opinião sobre pessoas que compartilham musica na internet?
Charles:
É da natureza humana querer ter as coisas de graça, então eu entendo porque as pessoas baixam músicas, mas eu não tenho certeza de qual o motivo para compartilhar música. Acontece, porém, nós temos que trabalhar em volta disso.


ATM: Que bandas e artistas você anda escutando ultimamente?
Charles:
Todos os tipos, realmente. Eu tenho escutado bastante uma banda inglesa chamada Cardiacs, música bem estranha, definitivamente nada metal. Tenho sido muito inspirado também pelo Animals As Leaders, música extremamente desafiadora e original. Fora isso, apenas meus velhos favoritos como Carcass, Enslaved e assim por diante.

ATM: Você tocou alguns shows com o Mayhem esse ano. Como você acabou tocando com eles? Eu acredito que foi uma grande experiência para você, certo?
Charles:
Bem, sim, está aí para todo mundo ver mas não há nada oficial sendo dito. Muito divertido até o momento, ótimos sujeitos, que sabem como conduzir isso.

Charles Hedger com o Mayhem, no Bloodstock Open Air 2012
ATM: Seu primeiro passo na indústria musical foi quando você substituiu [o baixista] Dave Pybus no Cradle Of Filth [Dave não participou da turnê do álbum "Nymphetamine", sendo substituído por Charles, que mais tarde foi efetivado na banda como guitarrista]. Como você conheceu eles e foi convidado para fazer a turnê de "Nymphetamine"?
Charles:
Eu conhecia eles há muitos anos, eles faziam parte do mesmo grupo social do meu irmão. O trabalho apareceu, precisava ser suprido imediatamente e aconteceu de eu estar disponível. Simples assim.

ATM: O único álbum que você gravou com eles foi o "Thornography". Você participou do processo de composição dele?
Charles:
Eu estive envolvido com o "Thornography" [2006] e o Godspeed ["Godspeed On The Devil's Thunder", de 2008]. Pessoalmente, eu sinto que ambos poderiam ter sido bem melhores do que foram, mas meu gosto pessoal possivelmente é bem diferente dos fãs deles.


ATM: Qual foi a razão por ter saído da banda em 2009?
Charles:
Foi simplesmente natural. Nunca foi realmente a banda certa para mim, a música nunca me arrebatou mesmo. Eu ainda amo os primeiros álbuns antes deles terem tentando tornar-se mais mainstream e a música tornou-se muito simplificada. Eu não acho que teria sido algo inteligente para eles ou para mim se tivéssimos seguido juntos.

ATM: Obrigado pela entrevista, Charles! Alguma mensagem para seus fãs na América do Sul?
Charles:
Eu gostaria de dizer obrigado por escutarem o que eu tenho a dizer em palavras e através da música. Espero que possamos nos encontrar um dia e eu poderei falar obrigado cara a cara.


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