Southern Extremism: FROST DESPAIR

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012



A sessão Southern Extremism está de volta para divulgar o trabalho do que temos de melhor na cena gaúcha. E dessa vez trazemos até vocês a Frost Despair, banda de Porto Alegre, que foi inicialmente idealizada em 2007. A banda tem uma proposta bem interessante que tem o Black Metal Sinfônico como base de sua música, mas ainda assim conseguindo ir muito além desse rótulo e mesclando outras influências diversas. Em 2011 lançaram o EP "The God Delusion", um excelente petardo que destaca-se pela harmonia entre peso, melodia e orquestrações bem trabalhadas. 
A banda conta hoje em dia com Odommok (vocal), Agammenomm (teclado e piano), Flavia Schmith (vocal), G. Purpper (guitarra), Renan (guitarra) e Moloch (bateria). Atualmente estão trabalhando no álbum "Surreal", que promete ser um grande passo adiante em relação ao primeiro EP. Em um press release divulgado pela banda (que você pode ler clicando aqui), o álbum promete abordar uma temática envolvendo o ateísmo e o pensamento livre, com uma grande influência de Richard Dawkins (escritor de divulgação científica conhecido por defender o ateísmo) e Carl Sagan (cientista famoso pelo seu trabalho na série de TV dos anos 80 "Cosmos: Uma Viagem Pessoal"). Para completar, a arte da capa foi criada por Marcelo Vasco, que já fez trabalhos para bandas como Dimmu Borgir, Keep of Kalessin, Dark Funeral e Chrome Division.
Em uma conversa com o vocalista Odommok, abordamos vários assuntos como o histórico da banda, processo de composição e a evolução da música da banda, dentre vários outros temas. De quebra, ainda descobrimos que a banda tentou fazer Dani Filth tomar chimarrão, quando abriram para o Cradle Of Filth, em 2010. Leiam a entrevista e não deixem de conferir o link para escutar o excelente "The God Delusion", que encontra-se ao final da entrevista.


ALL THAT METAL: Eu gostaria que você pudesse começar nos dando um breve histórico da Frost Despair.
Odommok: A Frost Despair inicialmente começou a partir de uma ideia que tive com meu irmão (Agammenomm) e amigo (Galamoth) em 2007. Nós nos encontrávamos e tocávamos juntos aos finais de semana e trocávamos técnicas, ideias e etc... neste contexto. Em 2008 estruturamos mais o já projeto de banda e começamos a buscar demais músicos. Quando iniciamos a banda configurada como está hoje, em 2009, buscávamos a integração do clássico, da erudição, com o metal extremo mais especificamente o Black Metal sinfônico. Desta forma, pensamos no casting formado por 2 guitarristas, baixo, pianos/teclados, uma vocalista soprano para suavizar e o vocalista frontman. Então Iniciamos os trabalhos. Agammenomm e eu tínhamos muitas composições que foram melhor moldadas e enfim nasceu "The God Delusion" [EP lançado em 2011]. Na minha opinião, uma amostra da Frost Despair. Esse debut foi marcado pela estrutura básica idealizada no projeto da banda. A união da música clássica e do metal com atmosferas interessantes a aprazíveis aos ouvidos. Agressivo e calmo em diferentes momentos.

ATM: E agora vocês estão gravando um álbum chamado "Surreal" que foi anunciado no MySpace da banda. Como está o processo de gravação e a previsão de lançamento?
Odommok: "Surreal" é algo totalmente novo para nós e creio que para todos que o escutarão. "The God Delusion" ficou para trás, em um bom lugar, mas ficou. Agammenomm e eu trabalhamos muito na composição do álbum. Reestruturamos a banda e estamos a toda nas gravações. Neste momento, estamos em busca dos primeiros tons de mixagem e masterização, ao mesmo tempo em que são gravadas linhas de vocal e alguns ornamentos faltantes. Importante comentar que, durante a concepção e gravações do "Surreal", muito mudou na Frost Despair. Hoje temos um excelente time com Galamoth, Gladimir Purpper, Flávia, Joaw, Agammenomm e eu. A cada ensaio ficamos mais felizes com o que temos para mostrar e os problemas se desfazem.
   
ATM: O conceito do álbum a respeito do ateísmo e pensamento livre parece ser bem interessante. Como surgiu a idéia e a qual a influência dos trabalhos de Richard Dawkins e Carl Sagan sob o conceito desenvolvido?
Odommok: O Ateísmo representa a expressão do pensamento e prisma de contemplação do universo livre hoje em dia. O metal é marcado pela contestação e muito se apoderou de dogmas satanistas, nórdicos entre outros como levante contra o Cristianismo. Isso foi importante, contudo não há mais espaço para este tipo de discurso atualmente. Vivemos em um mundo rápido e real. Conceitos como "Deus", "Diabo", "Criação" não mais se sustentam com os avanços científicos e filosóficos humanos. Carl Sagan foi um excelente ser humano ao mostrar o quão pequenos e complexos somos na vastidão do universo. Richard Dawkins, enfim, é o homem que ataca publicamente a religião e mostra o que a filosofia, psicologia, biologia... têm para colocar no lugar. São pensamentos ousados e radicais para algumas pessoas, porém são lógicos e evidentes. Em "Surreal" o existencialismo humano dogmático, a moral, o mentalismo serão discutidos e atacados. Meu objetivo é que além de ouvir boa música, as pessoas possam entender/pensar sobre algo tão estabelecido. As letras passam desde a narração da Criação, Apocalipse até a visão atual científica das coisas do mundo.

ATM: "Surreal" tem uma capa fenomenal criada artista Marcelo Vasco [Dimmu Borgir, Keep of Kalessin, Dark Funeral, Chrome Division]. Como surgiu a oportunidade de trabalhar com ele?
Odommok: O Marcelo é uma pessoa fenomenal! Além de ser um excelente profissional, pensa sobre as coisas de maneira clara e assertiva. Conversamos muito durante o processo de concepção da capa do "Surreal", eu com palavras e ele com imagens majestosas. O considero uma pessoa muito especial entre nós na cena brasileira. Começamos a trabalhar com ele já em "The God Delusion" quando passei a ele o conceito do álbum e ele também me voltou com uma capa magnífica. Inclusive ela seria de uma outra banda mas acabou não sendo (não vou dizer qual pois não sei se ele me autoriza), mas só de ver qual banda era... já fiquei muito feliz e totalmente contemplado.


ATM: Escutando o primeiro trabalho de vocês, "The God Delusion", eu fiquei realmente curioso a respeito do processo de composição dentro da banda. Como ele funciona dentro da banda? As orquestrações são um fator marcante na música da Frost Despair, quem é responsável por elas?
Odommok: A composição do "The God Delusion" foi minha e de meu irmão (Agammenomm). Eu brinco com ele ao dizer que ele é a grande mente perturbada por trás das orquestrações da Frost Despair (que por sinal estão evoluindo muito no "Surreal"). Nós trabalhamos juntos compondo, eu trabalho na estrutura da música, guitarras, baixo. Agammenomm faz a orquestração, pianos, guitarras, linhas de bateria. Nós compomos em software. Então passamos para a banda e o pessoal consegue extrair o melhor! Rolam adaptações, modificações... Então eu componho os vocais e letras, o que me custa muita leitura e trabalho com a Flávia. Em "The God Delusion" e "Surreal" o trabalho foi deste modo. Para o terceiro CD eu estou estudando uma forma similar, porém melhor. Além de futuras parcerias em composição com Galamoth, Purper e Joaw. Tudo depende de como as coisas vão correr.

ATM: Existe algum compositor erudito em específico que você citaria como influência nas orquestrações?
Odommok: Sim, mas não há para nós um grande entre grandes, acho que música clássica não é como metal... Um mundo de gigantes. Acho que Bach, Mozart e Wagner tem um peso importante. Por vezes influência, inspiração ou gosto pessoal mesmo.

ATM: O som de vocês tem como base o Black Metal Sinfônico de bandas como Dimmu Borgir, Emperor e Cradle Of Filth antigo, dentre outras. Mas, do meu ponto de vista, vocês conseguem levar isso para além dos padrões normais do gênero, acrescentado elementos que diferenciam a banda. Você concorda com essa afirmação?
Odommok: Sim, plenamente. O interessante é que quando tu inicias um projeto ou mesmo quando começa um novo álbum... As coisas mudam. Por mais que nós tenhamos grande admiração por bandas como o Dimmu Borgir, Cradle of Filth e outros grandes do BM, não há como fugir da construção de identidade musical do grupo. Em "Surreal" as músicas existem por elas mesmas. Há influências, obviamente, mas temos a Frost Despair tocando com sua individualidade.

ATM: Ainda sobre um assunto próximo disso, dois meses atrás eu fiz uma entrevista com Charles Hedger (Mayhem, Imperial Vengeance, ex-Cradle Of Filth) e ambos concordamos que a cena do metal extremo, de uma forma geral, está tornando obsoleta por seguir apenas padrões pré-definidos. Vocês tentam evitar esse tipo de coisa para que a banda não fique sendo rotulada?
Odommok: Eu observo isso como fã e como músico. Não sei se trata-se de uma mudança de zeitgeist no metal ou algo do tipo. Creio que surgem centenas de bandas boas e sérias todos os anos e isso simplesmente por amor a nossa música. Naturalmente as composições obedecem a uma estrutura básica de execução de acordo com o subtipo de metal. Não são necessários mais de 5 segundos, muitas vezes, pra "classificar" uma banda ou música... os que sobrevivem é por investimento financeiro, qualidade e individualidade. Não haverá 2 Iron Madeins, Ozzy Osbournes ou 2 Dimmu Borgir. Esses senhores desenvolveram a música e soam por si mesmos. Me lembro uma vez que escrevi para o Shagrath (Dimmu Borgir, Chrome Division, Ov Hell) elogiando o trabalho deles, as contribuições das letras e melodias na minha vida pessoal. Ele me respondeu: "Obrigado por tuas palavras gentis. Eu devo te aconselhar que continue com a ciência que é muito mais interessante. Com uma banda de metal, a chance de sucumbir às massas é maior". Ele tinha razão em grande parte diante do estado atual da produção musical do metal.

ATM: Eu gostaria de saber como foi para vocês a experiência de abrir para uma banda como o Cradle Of Filth. Vocês tiveram contato com a banda? Isso ajudou a elevar a banda a outro patamar?
Odommok: Foi realmente muito bom. Tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Eu escuto Cradle desde meus 14 anos, e muito.

ATM: Eu imagino, também sou um grande fã da banda de longa data e ver eles na grade foi ótimo.
Odommok: Nós tivemos uma grande noite em Porto Alegre! Acompanhamos a passagem de som dos caras, bastidores. Tivemos sim contato com a banda. Partes boas e ruins. Dani estava muito apressado com tudo, eu ofereci chimarrão e ele não gostou nada da ideia (risos). James e Paul foram muito cordiais e conversamos um pouco. Quanto ao show, bom creio que esperávamos por isso há anos. Quanto a nossa abertura, surpreendentemente ao invés de pedir muito pela banda principal, o público nos aceitou. Foi grande!
 
 ATM: Hoje em dia a indústria musical é muito competitiva com dezenas de bandas surgindo o tempo inteiro. Eu gostaria de saber como a Frost Despair faz para divulgar seu trabalho e destacar-se nesse meio?
Odommok: Essa é uma questão de constante debate interno na banda. Temos uma cena nacional em crise e enfraquecida. Diversos escândalos com opiniões extremistas, festivais que não ocorrem, quebra de contratos. Tivemos que enfrentar acontecimentos similares já em eventos. Acho que o que nos move em meio a tudo isso é simplesmente a vontade de fazer boa música. É claro, sempre estudamos meios de divulgação de nosso material, procuramos manter todas as pessoas atualizadas sobre o que estamos produzindo e etc. De maneira geral a banda segue independente, não por opção plena, mas pelas contingências atuais da cena. Agora estamos negociando algumas datas, trabalhando nas gravações, ensaios, produção de fotos, imagem, e etc. Nosso objetivo é alcançar qualidade maior. Com o "Surreal", se houver uma boa oportunidade, tentaremos trabalhar com um selo e etc.

ATM: Isso é um ponto interessante. Geralmente as bandas tem que encarar condições terríveis para tocar. Vocês já passaram por algo do gênero?
Odommok: Sim. Na época entramos em um acordo pra não acionar judicialmente. Eu prefiro não comentar em detalhes. É impressionante como algumas bandas se sujeitam a certas coisas. A valorização atual dos músicos do metal é terrível. Acho que temos que fazer a nossa parte, a Frost Despair já se recusou em tocar. Perdemos palco, mas não perdemos a dignidade. Ao fazermos isso valorizamos as demais bandas da cena e estamos juntos em uma possível mudança de conceito do que é tocar em algum lugar.

ATM: Por fim, eu gostaria de agradecer pela entrevista. Deixo esse espaço para falar o que podemos esperar da Frost Despair em breve e deixar um recado para os fãs da banda.
Odommok: Bom, o que posso prometer é que tentaremos superar as expectativas em relação ao "Surreal". Estamos alinhados e trabalhando na produção, gravação e finalização do álbum. A todas as pessoas que nos felicitam, "curtem", enviam mensagens e compram nossa música. Nossos agradecimento e respeito. Esperamos propiciar bons momentos mentais a todos. A música se passa na mente e então temos excelentes emoções!

LINKS: 

*no MySpace e Soundcloud da banda vocês podem escutar a "The God Delusion" na íntegra


Um comentário:

  1. Gostei muito dessa banda, esperando o Debut completo, a capa é muito legal uma pena ter caveira no meio que considero uma das coisas mais bobas e clichês do rock/metal ... particularmente não gosto ...

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