Review de CD: Black Sabbath - 13 [Por Paola Rebelo]

quarta-feira, 26 de junho de 2013



Para ler todas as resenhas do All That Metal sobre o novo álbum do Black Sabbath, clique na tag review 13.

Falar sobre Black Sabbath é como pisar em ovos. É preciso ter em mente que está lidando com lendas, e como qualquer ídolo desse porte, existem legiões de fãs com as mãos cheias de pedras para atirar em qualquer um que ouse discordar. Durante os meses de espera pelo lançamento de 13 já eram lançados alguns previews de músicas que não eram exatamente tudo aquilo que se esperava, mas a expectativa continuou alta, afinal, estamos falando dos inventores do heavy metal.

E a verdade é que o 13 realmente não se fez presente como deveria. Com certeza é um ótimo álbum. Com certeza ele está acima da média dos álbuns lançados esse ano, ou no ano passado, ou ainda no anterior. Com certeza manteve o mesmo estilo do Sabbath das antigas... Mas apenas com mais do mesmo. Não importa nesse aspecto a qualidade das músicas em si, mas o fato é que se esperava muito mais desse quarteto (ops, trio e um convidado) tão renomado.

"End of the Beginning" abre o álbum com um sonoridade inicialmente mais sombria e carregada, e se estende lentamente até os riffs mais pesados se revelarem por detrás daquele pano introdutório com clima de teatro de horrores. O destoante negativo dessa música, que se segue presente em outras faixas do álbum, acabou sendo realmente o trabalho do baterista Brad Wilk (Rage Against the Machine, Audioslave). Logicamente, já havia um preconceito geral da escolha de quem assumiria as baquetas no lugar de Bill Ward, porém só se pode fazer esse tipo de crítica depois de o trabalho ter sido lançado... E Wilk realmente não convenceu. Evidenciou-se a bateria simplista da música em contraste com os riffs brilhantes de Tony Iommi.

A canção mais longa é a "God is Dead", que todo mundo já conhecia pelas previews do álbum. Ela demora a engrenar, e mantém sua passada lenta, porém sem perder a gravidade proposta por Iommi e Geezer Butler, que se mantiveram alinhados em sintonia durante grande parte da música, salvo alguns riffs de guitarra que se destacam nas notas mais altas da duvidosa técnica vocal de Ozzy Osbourne.

A seguir temos "Loner", um dos carros-chefe de 13. Trata-se de uma faixa bastante comercial, sim, porém isso não diminui a sua qualidade. Ela começa forte, com um toque que mistura o rock clássico com o hard rock dos anos 90 e uma pitada de blues. Os riffs acentuados e pegajosos criaram uma harmonia interessante com a voz de Ozzy. Uma voz limpa com certeza não daria a essa música a atmosfera que ela precisa para funcionar.

"Planet Caravan", é você? Muitos fãs de Black Sabbath devem ter pensado isso ao ouvir "Zeitgeist", de extrema semelhança com a canção do álbum Paranoid, lançado em 1970. Não há nada de inovador, mas é agradável aos ouvidos, bastante calma, com o violão como um tranquilo e frio substituto da guitarra de Iommi. A psicodelia setentista marca as batidas entre violão e bateria num clima que beira o western. Uma combinação interessante com bom resultado, porém, repetindo o que o Tiago já havia dito em sua crítica, ela é uma canção desnecessária. O que pedem os fãs não são clássicos antigos reescritos, mas sim novos clássicos.

"Age of Reason" é o momento dourado de Brad Wilk, e talvez o seu único destaque em todo o álbum. Ao contrário das demais faixas longas do álbum, ela já começa com força e velocidade, e possui variações em diversas passagens ao longo da música. Pode não ser a sonoridade mais marcante do 13, mas é uma daquelas raras canções em que todos os instrumentos recebem sua devida ênfase nos momentos mais adequados. Quem se sobressai, entretanto, é mais uma vez Tony Iommi, com um solo cujas virtudes não se baseiam em velocidade, mas sim em uma evolução gradativa em uma dança bem construída ao longo das notas. Um bom solo é comparável a um bom discurso, afinal, deve ter início, meio e fim.

"Live Forever", por sua vez, ataca com um riff poderoso logo de início, e ganhou o carinho imediato da grande massa de fãs de rock e metal. Ela é o pacote completo: solos constantes, riffs definidos, uma bateria simplória, porém funcional... Se há uma canção de 13 que todos nos shows da turnê que vem aí saberão cantar, minhas apostas caem em um coro uníssono cantando "But I don't wanna live forever, but I don't want to die". Não é a melhor do álbum, porém está longe de passar despercebida.

Não há palavras suficientes para descrever "Damaged Soul". É o retorno magistral ao Sabbath das antigas, com aquele pé enfiado fundo no blues e uma letra com deus, demônio e apocalipse ao estilo mais tradicional dos primeiros álbuns da banda. Geezer Butler e Tony Iommi disputam destaque ao longo dos oito minutos de duração da faixa, mas, por fim, quem acaba subindo no pedestal é mais uma vez Iommi.

"Dear Father" pode não ser a melhor faixa de 13, contudo com certeza é a que ganhou a letra mais interessante. As intensas linhas de baixo de Butler, o peso da agressividade dos dedos metálicos de Iommi sobre suas cordas e o vocal mais sombrio de Ozzy contam a história de um garoto abusado sexualmente por um padre. Mais uma vez, a bateria se perde entre o modesto e o clichê, porém os demais elementos dessa canção se mostraram tão fortes que as habilidades de Brad Wilk não se mostraram tão ofensivas.

Na Deluxe Version de 13, os velhinhos presenteiam os fãs com mais quatro faixas arrebatadoras. "Methademic" começa com uma guitarra lenta e solitária, mais uma vez com certa alusão western, e em uma virada repentina de estourar as caixas de som, torna-se rápida e forte, com o tipo de riff que gruda na cabeça e fica se repetindo por horas após a música ter sido ouvida. É uma música a ser lembrada, que mereceria um espaço maior dentro do disco, talvez até mesmo substituindo canções como "Zeitgeist" ou "God is Dead". Talvez seja a única faixa que possa bater de frente com "Damaged Soul" ou "Loner".

"Peace of Mind" é uma surpresa agradável para quem já havia perdido completamente as esperanças em Brad Wilk. É uma música que se mantém constante, sem abusar das trocas de velocidade, e bastante curta se comparada a qualquer faixa da banda, com apenas três minutos e 41 segundos. Não é uma música feita para ser a favorita de ninguém, mas possui as linhas clássicas do Sabbath antigo em boa evidência. 

"Pariah", ouso dizer, é a música abençoada com o solo mais bonito que Iommi preparou para esse disco, embora não se possa dizer que é o mais elaborado. Também é uma faixa relativamente curta (embora não tão curta quanto "Peace of Mind"), e com um refrão grudento que poderia funcionar muito bem na turnê que vem por aí. Ela gradativamente aumenta seu ritmo ao longo da música até encontrar um momento de estabilidade, de forma absolutamente natural. Uma ótima faixa que talvez muitos não venham a conhecer por ser uma bônus, infelizmente.

"Naïveté in Black" provavelmente é a música do Black Sabbath mais difícil de ser ouvida. A quarta e última faixa bônus de 13 só está presente na versão americana do disco (versão Best Buy), e mesmo na internet foi difícil encontrar sinais de que ela realmente existia mesmo dias após o lançamento do álbum. A canção adiciona um pouco mais de distorção na guitarra e soa um pouco mais pesada do que as demais. É uma canção interessante, porém ordinária, o que faz questionar o porquê o tamanho exclusivismo em relação a ela ter sido lançada em só um país. Remete mais aos trabalhos da carreira solo de Ozzy Osbourne do que ao próprio Black Sabbath.

13 foi gravado entre agosto de 2012 e janeiro de 2013 nos estúdios Sangri La Studios (Califórnia, EUA) e Tone Hall (Warwickshire, England), com a produção de Rick Rubin. Sob o selo da Vertigo e da Universal, o álbum foi lançado oficialmente no dia 10 de junho de 2013, e se encontra em 1º lugar nos Music Charts em cerca de dez países, incluindo o Billaboard 200 (EUA).

Uma curiosidade a respeito desse álbum é como foi feita a sua arte de capa. Seguindo a aura retrô setentista que domina 13 do início ao fim, a empresa londrina Zip Design decidiu que tudo deveria ser natural e sem computadores. Assim, contrataram o escultor Spencer Jenkins para construir o número 13 de vime, com oito metros de altura. A escultura foi incendiada na zona rural de Buckinghamshire e fotografada por Jonathan Knowles. Foi lançado um vídeo de Behind the Scenes da produção da arte de capa, em uma parceria da equipe de filmagem de Knowles com a Zip Design, que pode ser visto neste link.

Nota: 4

Nenhum comentário:

Postar um comentário